Ao tomar conhecimento de irregularidades e desvios de dinheiro público através de escândalos denunciados à sociedade brasileira, tais como: Vampiros da Saúde (1990-2004); TRT-SP (1992-1999); Banestado (1996- 2000); Sudam (1998/1999); Anões do Orçamento (1889-1992); Banco Marka (1999); Mensalão(2005); Operação Sanguessuga (2006); Operação Navalha (2007); Máfia dos Fiscais em São Paulo (2008); Operação lava-jato (2014 – em investigação), dentre outros, há a impressão que os cidadãos são anestesiados de um escândalo para outro.

O que parece natural – e é vergonhoso e pesaroso – é que em muitos destes escândalos, profissionais da Contabilidade estiveram e estão envolvidos. É aí surge um questionamento: que atitudes éticas seriam necessárias para que os profissionais da Contabilidade pudessem ser exemplo positivo, diante de uma sociedade corrompida de seus valores mínimos de dignidade e respeito ético uns com os outros?

 

Conduta ética

Uns dos princípios basilares em todos os países desenvolvidos é a conduta ética ilibada. A ética fundamenta-se, precipuamente, no respeito da pessoa humana. Desta forma, para se falar de ética, é condição sin equa non esclarecer que não se trata de algo novo, tão pouco de algo que esteja, agora, na moda. Ela surgiu desde quando o homem começou a despertar que era um ser racional e livre, porém, que para conviver em sociedade, era preciso assumir responsabilidades e, sobretudo, respeitar o espaço do seu semelhante.

“A ética fundamenta-se, precipuamente, no respeito da pessoa humana.”

Assim, esses espaços de respeito ao semelhante estão sendo demolidos da conduta de alguns indivíduos que procuram somente o TER em detrimento do SER. O respeito pelo outro é com base no que você tem a oferecer, o amigo útil. O que dá direito a alguém desviar dinheiro que seria destinado a saúde pública, ou furar a fila, de enganar ao seu semelhante?

Independente do que seja essa ou aquela conduta, avaliando o grau de efeitos causados, a questão perpassa pela ética. Através da educação, precisamos constantemente ensinar as coisas certas e desgostar das coisas erradas, pois a ética tem como finalidade o bem. Neste entendimento, a ética existe para as pessoas e não tem como ela colher os seus frutos se ficar somente presa a códigos. O que precisa é haver consciência ética durante as nossas ações, perante o nosso semelhante, pois as nossas ações revelam o nosso caráter.

Conduta ética

 

A ganância financeira

Como agimos, revelamos quem somos. O cenário atual pelo qual passa a sociedade brasileira nos conduz a fazer algumas reflexões de nossas condutas éticas, pois a busca desenfreada por ter dinheiro pode manifestar uma variedade de condições que afastam dos objetivos da ética. Além disso, o excesso de desejos por bens materiais paralisa a vontade do indivíduo em querer adquirir aquilo de maneira lícita, e aí passa a desejar suprir necessidades que surgem da ganância, do querer sem precisar dedicar esforços maiores.

E o apóstolo Paulo aponta que o dinheiro é a raiz de todo mal. Neste sentido, há de se entender que não existe nenhum problema em possuir as coisas de forma lícita. Agora, enriquecimento ilícito, ganância financeira e se utilizar de meios indevidos para obter vantagens financeiras, em detrimento do outro, é, no mínimo, uma conduta abominável.

 

Conduta do Profissional da Contabilidade

Ao provocarmos essa reflexão, pretendemos conscientizar os profissionais da Contabilidade a exercermos as nossas atividades com dignidade e honradez, como sabiamente colocadas pelo presidente da AAC.

“para que sejamos profissionais integrais, é necessário que divulguemos e apliquemos, perante a sociedade, os princípios e valores éticos da profissão.”

Permeado por este desejo é que desenvolvermos esse repensar sobre a importância e o sentido da ética para nossa profissão, que no desempenho das funções, se deve ter qualidades e atributos que são indispensáveis para desenvolver o trabalho com eficácia. Essas finalidades e virtudes vão traçar o perfil do profissional ético, contribuindo para o enriquecimento de sua atuação profissional.

O Prof. Lopes Sá (1996, p. 151) afirma que as “virtudes básicas profissionais são aquelas indispensáveis, sem as quais não se consegue a realização de um exercício ético competente, seja qual for a natureza do serviço prestado.”

Diante do exposto, salientamos que os profissionais da Contabilidade deverão imbuir-se de uma postura ética perante as organizações, não se deixando manipular por atitudes inescrupulosas que venham mais tarde prejudicar a sua carreira profissional. Portanto, a educação do caráter do sujeito moral deve dominar racionalmente impulsos e desejos, orientando a vontade rumo ao bem e à felicidade, para conduzi-lo como membro da coletividade sócio-política, atuando harmonicamente, entre o caráter do sujeito virtuoso e os valores coletivos.

Conduta do Profissional da Contabilidade

 

Qual o padrão de conduta ética que se deve seguir?

Os profissionais da Contabilidade devem atribuir valores às suas ações e a ética está diretamente relacionada a esses valores, aos princípios da dignidade, do respeito às pessoas, da boa educação, não possuindo, pois, caráter legal. Na visão do Institute of Certified Management Accountants e o Institute of Management Accountants, os padrões de conduta ética a serem seguidos pelos profissionais de Contabilidade estão relacionados com as responsabilidades de desenvolverem suas atividades de acordo com o grau de competência, confidencialidade, integridade e objetividade. Certamente por prestar serviços e informações relevantes à sociedade como um todo, é que o profissional da Contabilidade deve transmitir confiança na execução de seus trabalhos.

Essa confiança se conquista com o domínio técnico específico e atualizado e, com o mesmo grau de importância, através da conduta ética do profissional. Conclui-se, assim, que ao viver em um país marcado por um número tão alto de infrações éticas, a exemplo da corrupção, torna-se essencial para os profissionais da Contabilidade a concepção de que a ética é vital no exercício profissional.

 

Antonio Carlos Ribeiro da Silva é contador, pedagogo, psicopedagogo, licenciado em Técnicas comerciais, bacharelando em Teologia, especialista em Contabilidade Gerencial, mestre em Contabilidade e doutor em Educação. Vice-presidente Técnico do CRCBa, presidente da Fundação Visconde de Cairu e atua como professor da UFBA e UNEB.